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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sida não é solidão (Parte II)

Ainda a propósito do tema "Sida não é solidão", aqui fica o poema da Cristina Caras Lindas.

Quero lembrar-te
Que há um amigo
Que vive perfumado
De rosas e remédios.
Numa dolorosa calma
Alguém como nós
Cresceu entre lendas fantásticas
E histórias de encantar.
Brincou aos indíos e cowboys.
Fez perguntas, quis sonhar,
E um dia amou demais.
Andou sozinho neste mundo de todos
Com um cavalo branco no sangue e um palco no peito.
Na noite traficou alegrias e acendeu fogueiras de loucura.
Até que a vida lhe desmontou
O circo da infância.

Engoliu angústias,
Enfrentou silêncios,
E desenhou uma viagem
Com os dedos no vidro embaciado da janela.
Foi a tristeza de um lume apagado
A perca de um Universo.
Dias ocos que se fecharam no meio do sol.
Depois as contracções de revolta,
O ensaiar palavras para pedir ajuda.
Não cales,
Não pares
Enfrenta esta luta.
Inventa a força que é só tua.
Quero dar-me em excesso
Neste sentimento que nos une,
Nos aperta, e nos ata,
Que é o único que a sida não mata.

Quero aconchegar os lençois brancos,
Que vamos transformar em milagre.
Curar as tuas feridas,
Deixar-te adormecer,
Apertando a minha mão.


Quero dar-te a minha ternura,
Numa caixa, com laço de fé.
Embrulhada em papel,
De pele quente de amigo,
Quero dizer-te conta comigo.


Murmurar-te ao ouvido,
Dizer-te conta comigo,
A Sida não é solidão…

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